O Livro das Imagens, cuja primeira edição data de 1902, acabou por se tornar um projeto em contínuo, conhecendo várias edições com poemas adicionados ou subtraídos, fazendo dele um enorme campo de experimentação para Rainer Maria Rilke.
Na sua última edição, que aqui se publica, é possível entrever toda a teoria estética do autor: poemas impressionistas, sobre objetos, de motivos religiosos, sobre personagens-tipo, ou as famosas composições sobre os anjos. A tradução e prefácio ficaram a cargo de Maria Teresa Dias Furtado, que nos tem dado a ler nos últimos anos esta bela poesia.
«Neste livro não há nada que não seja importante e que não seja festivo. Cada palavra integrada no séquito do verso deve mover-se e a mais pequena não deve ficar atrás da maior em dignidade exterior ou beleza», frisou o próprio autor ao seu editor.
O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 27 de Junho.
ENTRADA
Quem quer que sejas: de noite para fora sai
do teu quarto, onde tudo sabes e desejas;
a tua casa é a última antes da lonjura, que sobressai:
quem quer que sejas.
Com teus olhos, que cansados mal
se libertam da soleira gasta e real,
ergues lentamente uma árvore escura
e coloca-la frente ao céu, esguia, sozinha, pura.
E fizeste o mundo. E ele é grande, a emergir
tal uma palavra que ainda no silêncio amadurece.
E quando a tua vontade o sentido esclarece,
deixam-no teus olhos ternamente cair…
SOBRE O AUTOR
Rainer Maria Rilke nasceu em Praga, em 1875. Escritor precoce, publicou o seu primeiro livro de poesia antes dos vinte anos, Vida e Canções (1894). Entre as suas obras mais famosas contam-se As Elegias de Duíno (1923), Cartas a um Jovem Poeta (1929, obra póstuma) e o seu único romance, de teor autobiográfico, As Anotações de Malte Laurids Brigge (1910). Rilke destacou-se como um dos autores mais relevantes de língua alemã, tanto na poesia como na prosa lírica. Faleceu em Valmont, na Suíça, vítima de leucemia, em 1926.