2021-05-14

Assírio & Alvim inicia a publicação da poesia de Jorge de Sena

Perseguição e Coroa da Terra são os primeiros volumes da nova coleção Obras de Jorge de Sena

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Perseguição (1942) é o título de estreia de Jorge de Sena, o primeiro livro da sua longa produção poética, cuja publicação a Assírio & Alvim inicia a 20 de maio.

Neste primeiro fôlego, o autor parece libertar a poesia portuguesa de uma aparente asfixia trazida por Pessoa, reinterpretando o lugar do eu poético face ao mundo observado e subvertendo um certo sentimentalismo lírico que havia feito escola nas letras portuguesas. Prefácio de Fernando J.B. Martinho.

 

ETERNIDADE

 

Vens a mim pequeno como um deus,

frágil como a terra,

morto como o amor,

falso como a luz,

e eu recebo-te

para a invenção da minha grandeza,

para rodeio da minha esperança

e pálpebras de astros nus.

Nasceste agora mesmo. Vem comigo.

 

Na mesma ocasião, é publicado Coroa da Terra (1946), o seu segundo livro de poesia. A partir das suas deambulações pelo Porto, cidade a que dedica este título, Sena mostra-nos a visão de um mundo cru e impiedoso, à espera de ser sublimado pela melodia dos seus poemas. Prefácio de Francisco Cota Fagundes.

 

BAPTISMO

 

Os mais difíceis poemas onde falo de amor

são aqueles em que o amor contempla.

 

O amor esquece ao contemplar,

esquece que não existe e encantado olha

um raio anónimo sob o vento mais leve.

 

Contempla, amor, contempla.

 

E vai criando o nome que darás ao raio.

 

O autor

Jorge de Sena nasceu em Lisboa a 2 de novembro de 1919 e morreu em Santa Bárbara, na Califórnia, a 4 de junho de 1978. Licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia do Porto, parte para o exílio no Brasil em 1959 e aí doutora-se em Letras e torna-se regente das cadeiras de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa. Muda-se para os EUA em 1965, lecionando na Universidade de Wisconsin e, anos depois, na Universidade da Califórnia. Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e tradutor, é considerado um dos mais relevantes escritores de língua portuguesa do século xx, autor de títulos como Metamorfoses (1963), Os Grão-Capitães (1976), O Físico Prodigioso (1977) e Sinais de Fogo (1979), este último considerado a sua obra-prima.