2022-10-06

«donne-moi ma chance»

O Ar da Manhã, a coletânea poética de António Gancho há muito esgotada

Partilhar:

Volvidos 27 anos da primeira edição, reedita-se agora O Ar da Manhã, o conjunto de poemas que António Gancho confiou ao amigo Herberto Helder para publicação em 1995. Dez anos antes, Herberto Helder já havia antologiado o poeta em Edoi Lelia Doura, nomeando-o uma das melhores vozes da poesia portuguesa. O Ar da Manhã, Gaio do Espírito, Poemas Digitais e Poesia Prometida são as quatro secções deste livro, cuja epígrafe é «donne-moi ma chance».

 

O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 6 de outubro.

 

DEVAGAR SE VAI AO LONGE

 

Devagar se vai ao longe

se eu fosse monge.

Mas como não sou monge

devagar não vou ao longe

só monge.

Mas como eu também

devagar não quero ir ao longe

por isso também não me fiz monge.

Mas como eu também

não quero que se sonhe

que se ponha em questão

a causa da razão

deste poema devagar se vai ao longe

cujo tema é sobre um monge

então por isso neste caso

já não omisso

faço que se diga com isso

amigo ou amiga

mais vale o prejuízo.

 

SOBRE O AUTOR

 

António Luís Valente Gancho nasceu em Évora em 1940. Cedo começou a passar temporadas de internamentos em estabelecimentos psiquiátricos, tendo ficado até à sua morte na Casa de Saúde do Telhal. Escritor de uma linguagem inconfundível, fez parte da geração de surrealistas que frequentavam o Café Gelo, como Mário Cesariny ou Herberto Helder. Da sua mão, conhecemos o romance As Dioptrias de Elisa (1990) e O Ar da Manhã, coletânea dos seus poemas. Morreu a 2 de janeiro de 2006.