Poema do dia
2023-03-19
O primeiro homicídio
Está de joelhos, a Europa,
e o primeiro homicídio é cometido
de novo, e de novo, e de novo, numa
repetição da máquina sacrificial
obscurecendo os rios
de vermelhos vítreos,
cirúrgico lixo
que fornos sem medida e sem escala
não queimam.
Máscaras – faces derruídas, gastas, nenhuma luz
a não ser a das lâminas –
irrompem em naves escassas,
irrompem aos gritos,
e uma língua de morte diz por eles
ao que vieram, Deus não é grande,
Deus cospe maldições, polui
as vossas palavras, destrói
os campos, os de promessa
e comedimento, os de meditação
e espera.
Está de joelhos, a Europa, e alguém
acaba de a degolar, alguém a está
degolando, e o inferno
é o fotograma voltando, voltando.
Luís Quintais
A Noite Imóvel