Médico cardiologista, José Alberto Oliveira nasceu em 1952 em Souto da Casa, no Fundão. Surge publicado pela primeira vez no Anuário de Poesia de Autores não Publicados da Assírio & Alvim, em 1984. O seu primeiro livro de poesia, Por Alguns Dias, surge em 1992 e surpreendeu pelo seu lirismo discreto e pela diversidade temática de aproximação a aspetos do quotidiano, onde além disso são notórias as influências da poesia inglesa. Na Assírio & Alvim viria a publicar praticamente toda a sua obra poética nos livros O Que Vai Acontecer?, Peças Desirmanadas e Outra Mobília, Mais Tarde, Bestiário, Nada Tão Importante Que Não Possa Ser Dito, Tentativa e Erro, Como se Nada Fosse, De Passagem (considerado por alguns críticos como o melhor livro de poesia publicado em 2018) e Rectificação da Linha Geral.
Sempre para a Assírio & Alvim, traduziu W.H. Auden, Russel Edson, Frank O’Hara, Edgar Allan Poe, Li Shang-yin, Charles Simic e Mark Twain, entre muitos outros. Foi um dos principais colaboradores do livro Rosa do Mundo — 2001 poemas para o futuro.
Ao longo destes muitos anos, José Alberto Oliveira foi um amigo da Assírio & Alvim e de todos quantos por lá trabalharam. Presença assídua, aconselhou a publicação de inúmeros livros, colaborou na revista A Phala, partilhou leituras, opiniões e críticas. Foi um dos grandes responsáveis pela afirmação da editora no panorama literário português e a sua falta será profundamente sentida.
O velório terá lugar na Capela Mortuária da Igreja de Fátima (Av. de Berna, em Lisboa) a partir das 11h00 do dia 16 de maio, terça-feira. O funeral sairá às 9h00 do dia seguinte para o Cemitério dos Olivais, onde o corpo será cremado.
ANTES QUE ACABE
Conclusões? — louvam-se os acabamentos
em mobílias e vestidos, as tarefas diárias
nunca estão terminadas e o planeta ficará
agónico talvez mais cedo que as previsões,
o Universo acabará em vácuo, com flutuações
mínimas. Isto são factos, mas conclusões?
A teia da história naufraga
em malhas cibernéticas, onde é registado
o paradeiro, o tecido e a cor de peúgas
e cuecas, a doença é uma falha moral
e o crime um desleixo, ou erro de cópia
de códigos mal digeridos, a morte o resultado
previsível de algoritmos; há relatos
verídicos tão bem encenados, que parecem
vigarices; dada a inconsistência do clima
e a descoberta de novas falhas sísmicas
nos socalcos meridionais do Atlântico
Norte (quem antes estava atónito,
imaginem depois) será decoroso,
ou mesmo legítimo, exigir conclusões?
In Rectificação da Linha Geral, José Alberto Oliveira, 2020.