2023-05-15

José Alberto Oliveira (1952-2023)

Assírio & Alvim manifesta profunda tristeza e pesar pelo falecimento do poeta José Alberto Oliveira. Aos seus familiares, amigos e leitores enviamos sentidas condolências

Partilhar:

Médico cardiologista, José Alberto Oliveira nasceu em 1952 em Souto da Casa, no Fundão. Surge publicado pela primeira vez no Anuário de Poesia de Autores não Publicados da Assírio & Alvim, em 1984. O seu primeiro livro de poesia, Por Alguns Dias, surge em 1992 e surpreendeu pelo seu lirismo discreto e pela diversidade temática de aproximação a aspetos do quotidiano, onde além disso são notórias as influências da poesia inglesa. Na Assírio & Alvim viria a publicar praticamente toda a sua obra poética nos livros O Que Vai Acontecer?, Peças Desirmanadas e Outra Mobília, Mais Tarde, Bestiário, Nada Tão Importante Que Não Possa Ser Dito, Tentativa e Erro, Como se Nada Fosse, De Passagem (considerado por alguns críticos como o melhor livro de poesia publicado em 2018) e Rectificação da Linha Geral.

 

Sempre para a Assírio & Alvim, traduziu W.H. Auden, Russel Edson, Frank O’Hara, Edgar Allan Poe, Li Shang-yin, Charles Simic e Mark Twain, entre muitos outros. Foi um dos principais colaboradores do livro Rosa do Mundo — 2001 poemas para o futuro.

 

Ao longo destes muitos anos, José Alberto Oliveira foi um amigo da Assírio & Alvim e de todos quantos por lá trabalharam. Presença assídua, aconselhou a publicação de inúmeros livros, colaborou na revista A Phala, partilhou leituras, opiniões e críticas. Foi um dos grandes responsáveis pela afirmação da editora no panorama literário português e a sua falta será profundamente sentida.

 

O velório terá lugar na Capela Mortuária da Igreja de Fátima (Av. de Berna, em Lisboa) a partir das 11h00 do dia 16 de maio, terça-feira. O funeral sairá às 9h00 do dia seguinte para o Cemitério dos Olivais, onde o corpo será cremado.

 

ANTES QUE ACABE

 

Conclusões? — louvam-se os acabamentos

em mobílias e vestidos, as tarefas diárias

nunca estão terminadas e o planeta ficará

agónico talvez mais cedo que as previsões,

o Universo acabará em vácuo, com flutuações

mínimas. Isto são factos, mas conclusões?

 

A teia da história naufraga

em malhas cibernéticas, onde é registado

o paradeiro, o tecido e a cor de peúgas

e cuecas, a doença é uma falha moral

e o crime um desleixo, ou erro de cópia

de códigos mal digeridos, a morte o resultado

previsível de algoritmos; há relatos

 

verídicos tão bem encenados, que parecem

vigarices; dada a inconsistência do clima

e a descoberta de novas falhas sísmicas

nos socalcos meridionais do Atlântico

Norte (quem antes estava atónito,

imaginem depois) será decoroso,

ou mesmo legítimo, exigir conclusões?

 

In Rectificação da Linha Geral, José Alberto Oliveira, 2020.