2024-09-25

O calor ácido do sangue a estalar nas veias

Fístula marca a estreia de Diniz Conefrey no catálogo da editora

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Um homem corta-se com um vidro e é levado para um hospital por um simples tradutor. Aí, figuras pululam pelos corredores e salas assépticas, enquanto se insurge uma espera desencontrada entre o acompanhante e o homem a ser suturado. Uma carta, escrita tempos antes por uma mulher, ressoa a ligação estreita com um paciente agora idoso.

São estas as personagens de Fístula, narrativa em verso e prosa de matizes surrealistas, na qual Diniz Conefrey mergulha num mundo ameaçado pela dor.

 

O livro já se encontra disponível online e nas livrarias.

 

Do lado de dentro do vidro transparente

observava o edifício erguido. Paredes

de janelas rítmicas, repetidas em exaustão,

abrindo-se sem tecto, por onde entram

heras em cortinas delirantes,

ao som dos talheres na cafetaria.

Os sons atiram gumes de metal

descaindo coesos pelas conversas breves.

Uma interdependência rasa

inscrita na possibilidade das formas.

Apenas os olhares que se cruzam

a repetir, nos gestos suaves, os campos erguidos

colapsam inteiros na abrangência

da visão, lavrando o incêndio dos matizes.

 

SOBRE O AUTOR

Diniz Conefrey nasceu em Lisboa em 1965. Adicionou à formação autodidata o curso de desenho, na Sociedade Nacional de Belas Artes. Nas últimas três décadas participa, como ilustrador e autor de narrativas gráficas, em diversos jornais, revistas e editoras a par de ter efetuado alguns cursos de formação. Foi bolseiro do Estado mexicano em 2005, 2007 e 2015. Criou, com Maria João Worm, a chancela editorial Quarto de Jade onde tem vindo a publicar alguns livros da sua autoria. Simultaneamente, colaborou com a Pianola Editores, além de ter mantido uma presença assídua na revista Cão Celeste. É autor dos livros de poesia No coração de Agave (2017), Afluentes de Adobe (2018), com Alexandre Sarrazola e Maria João Worm, Um fio atravessa a noite (2019) e Fístula (2024).