Há quem diga que a verdadeira obra de Dylan Thomas está na inventividade com que compunha versos, mas é quase inegável que pouca tradição editorial lhe prestou a devida homenagem. Muito embora vários poetas se tenham reclamado, e reclamem ainda, devedores da sua poesia. Nesse sentido, esta antologia pretende colmatar esse vazio. Frederico Pedreira recolheu, traduziu e enquadrou a antologia Eu Vi o Tempo Assassinar-me, que percorre toda a carreira de Thomas, uma obra imensa que merece ser resgatada.
O livro já se encontra disponível online e nas livrarias. A 20 de outubro, pelas 18:52, na Livraria Poesia Incompleta, em Lisboa, Frederico Pedreira protagonizará uma conversa sobre a obra, intercalada de leituras.
ESTE PÃO QUE PARTO
Este pão que parto foi outrora aveia,
Este vinho em árvore forasteira
No seu fruto mergulhava;
De dia o homem e de noite o vento
Vergaram a colheita, tomaram o júbilo da uva.
Outrora neste vinho o sangue estival
Cutucava a carne que orlava a videira,
Outrora neste pão
A aveia era alegre ao vento;
O homem quebrou o sol, abateu o vento.
Esta carne que partes, este sangue que deixas
Em desolação na veia,
Eram uva e aveia
Nascidas de raiz e de seiva sensuais;
Meu vinho bebes, meu pão abocanhas.
SOBRE O AUTOR
Dylan Thomas nasceu em Swansea, no País de Gales, a 27 de outubro de 1914. Aos dezassete anos começou a trabalhar como jornalista no South Wales Evening Post e pouco depois rumou a Londres, onde rapidamente se afirmou como um dos poetas líricos mais importantes da sua geração. A partir de 1934 lançou vários livros de poesia, que culminaram na publicação dos seus Collected Poems em 1952. Ao longo da vida foi também escrevendo contos, sendo o seu livro mais célebre o autobiográfico Retrato do Artista quando Jovem Cão, de 1940. Foi autor de guiões para filmes e de programas para a rádio, entre eles a peça radiofónica Under Milk Wood. Entre 1950 e 1953 fez quatro visitas aos EUA, na sequência de convites para conferências. A 9 de novembro de 1953, pouco depois do seu trigésimo nono aniversário, com uma saúde enfraquecida pelo alcoolismo, faleceu no quarto de hotel onde estava hospedado em Nova Iorque.