A Paixão

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SINOPSE

Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.

Ler Almeida Faria é regressar, de outro modo, a Yoknapatawpha, a criação de William Faulkner para o implacável sul, essa paisagem de morte, infortúnio, exasperação e declínio. A Paixão é a reinvenção desse sul povoado de vozes que se sucedem e se contaminam. Não é por acaso que a stream of consciousness de Piedade anuncia a de João Carlos que anuncia a de Arminda que anuncia a da Mãe que anuncia a de André que anuncia a de Francisco que anuncia a de Jó que anuncia a de Tiago que anuncia a de Moisés que anuncia a de Estela, e assim sempre, com alguns sobressaltos e descontinuidades, num vórtice cruzado de tempos, qualia, experiência. Yoknapatawpha densamente povoada, cingida a uma duração que parece transbordar como negra densidade do tempo: «Manhã», «Tarde», «Noite». Ler Almeida Faria é compreender como só a palavra poderá fazer do espaço tempo, numa modulação do humano que é, afinal, uma lógica do sensível e do concreto em que as ideias são ideias do corpo, ideias no corpo, e em que o brilho metafísico do mundo é devolvido, como um eco sem origem ou cuja origem não poderá sequer ser ponderada. Tudo acaba em morte, mas também em ressurreição, a ressurreição do que não tem nome, ainda. A Paixão será porventura a mais espessa cortina de linguagem que a literatura portuguesa terá produzido na segunda metade do século XX. Podemos dizer, quase nostalgicamente, que já foi grande a escrita em português.
Luís Quintais
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CRÍTICAS DE IMPRENSA

Todo o génio de Almeida Faria está na expressão rigorosa da fértil união entre o sagrado e o profano.
La Quinzaine Littéraire, França
Um livro de pura genialidade da juventude.
Eduardo Lourenço
Ao ler A Paixão de Almeida Faria no início dos anos 70, entrei em imediata comunhão com essa obra-prima, a ponto de colar ao Lavoura Arcaica, sem qualquer pudor, certas imagens e metáforas daquele poema em prosa.
Raduan Nassar
O seu segundo romance, A Paixão, possui as mesmas qualidades literalmente espantosas de Rumor Branco, sendo ao mesmo tempo mais despojado e mais apaixonado; desta vez a severidade é implacável, e a composição aposta numa disciplina exemplar.
Books Abroad, EUA
Na minha geração, lembro-me de sair A Paixão de Almeida Faria e eu com 19 anos a pensar: Nunca chegarei aos calcanhares deste homem.
António Lobo Antunes

COMENTÁRIOS DOS LEITORES

Uma leitura excepcional
Anabela Borges | 2024-04-25
A escrita de Almeida Faria revelou-se excepcional, muito original e particularmente desafiante. "A Paixão" relata os dias que antecedem a Páscoa, com as tradições cristãs, no Alentejo rural, numa época em que se começa a revelar iminente o fim da Ditadura em Portugal. Percebêmo-lo através de sinais. É um livro que explora com mestria a densidade de cada personagem, desde o latifundiário à criada de servir. Muito bom! É o primeiro livro da tetralogia "Lusitânia". Recomendo vivamente e já estou a ler o segundo: "Cortes".
O Génio de Almeida Faria
N.Almeida | 2015-10-23
"A Paixão", primeiro parte da Tetralogia Lusitana de Almeida Faria, entra diretamente para a lista de "Romances incontornáveis da Língua Portuguesa" A maturidade da linguagem e dos temas tornam-se ainda mais impressionantes quando sabemos que este foi o primeiro romance de Almeida Faria.

DETALHES DO PRODUTO

A Paixão
ISBN: 978-972-37-1665-8
Edição/reimpressão: 01-2013
Editor: Assírio & Alvim
Código: 79334
Coleção: A Phala
Idioma: Português
Dimensões: 147 x 205 x 17 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 224
Tipo de Produto: Livro
Classificação Temática: Livros > Livros em Português > Literatura > Romance
Cursou Direito e Letras na Universidade de Lisboa, vindo a licenciar-se em Filosofia. Entre 1968 e 1969, estagiou como bolseiro nos Estados Unidos e na Alemanha Federal. Lecionou Estética e Filosofia da Arte na Universidade Nova de Lisboa.
Traduziu Enzensberger; a sua obra encontra-se traduzida em várias línguas. Foi o primeiro presidente do PEN Clube Português. Com apenas 19 anos, em 1962, publicou o romance Rumor Branco, Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores, uma obra pioneira face a um movimento de profunda renovação desenvolvido na novelística contemporânea portuguesa entre os anos 60 e 70. Entre 1965 e 1983 redigiu o ciclo "Trilogia Lusitana" (A Paixão, Cortes, Lusitânia), encerrado com Cavaleiro Andante, "um ciclo de reflexão sobre a situação do homem português perante o seu contexto social e a incidência política que o determina (o fascismo, a revolução...) e sobre a sua capacidade (ou, talvez melhor, incapacidade) de se definir na sua totalidade humana (pessoal, familiar, erótica, ambiencial), em registos de comunicação que transcendem o puramente ficcional (lírico e epistolar), assim modulado numa estrutura que coloca em situação de relevo a personagem, agente ou paciente da História que aqui fundamentalmente se encontra em questão" (cf. SEIXO, Maria Alzira - Portugal, A Terra e o Homem, II série, Lisboa, FCG, 1980, 427). Optando por uma estratégia construtiva em que cada capítulo funciona como "uma unidade textual em termos de semântica (um nome próprio inicia cada um deles, subsequentemente desdobrando-se em processos de definição e de referência, assumindo veredas da história e postulando visões ideológicas particularizadas) e de sintaxe (não só pela comunicação de ideoletos diversificados como pelas mutações discursivas [...] que imprimem à sequência narrativa o seu desvio, a sua mutação, a sua quebra)" (cf. SEIXO, Maria Alzira - A Palavra do Romance, Lisboa, Horizonte, p. 193), o ciclo de romances iniciado com A Paixão impõe ao leitor um papel ativo na reconstituição de uma realidade fragmentada e a que só pode aceder pelo confronto dos vários pontos de vista que cada personagem parcialmente constrói. Conseguindo uma fabulosa interseção entre a subjetividade (o onirismo, a visão individualizada do mundo) e a perspetiva socioeconómica em cuja dialética a ação do indivíduo se inscreve, esta sequência apresenta-se como registo íntimo de um período histórico, onde, para além da factualidade (sublevação da massa dos servos alentejanos, eclodir da revolução), avoluma a impressão de um encerramento de cada personagem sobre si mesma, que nem a abertura, em Lusitânia e Cavaleiro Andante, à comunicabilidade pelo registo epistolar conseguiu atenuar: "cada um dos personagens [...] apesar de religado aos outros pelos laços de paixão ou do sangue, destila as suas mensagens de solitude na esperança de que o outro as receba e as traduza na sua própria língua de solitária aflição." (LOURENÇO, Eduardo, "Cavaleiro Andante: Busca de Sinais no Labirinto da Morte", in O Canto do Signo, Lisboa, Presença, 1994, p. 239.) Acresce ainda, na abordagem do estilo de Almeida Faria, a opção lúdica e lírica por uma "sintaxe narrativa de coordenação e quase abolição dos limites frásicos que serve a expressão do fluxo da consciência ao mesmo tempo que, muito principalmente, acentua o valor da palavra como conceito e como significante numa elaboração sintagmática que desnivela as habituais hierarquias da narração" (cf. SEIXO, Maria Alzira - Portugal, A Terra e o Homem, II série, Lisboa, FCG, 1980, 427). Na verdade, se a matéria da ficção releva em grande medida do gozo de "pôr os mitos nacionais de pernas para o ar", desrespeitar os delírios da "Portugalidade" (entrevista, in Letras & Letras, n.º 75, Julho de 1992), a matéria linguística revela o gozo de, parodiando o autor, desrespeitar os delírios da literariedade, submetendo a escrita narrativa a uma proliferação verbal incontida e criativa que, através de processos de polissemia, de desconstrução de aforismos, de sequências aliterantes, de reprodução de ideoletos, entre outros, promove a autonomia da linguagem a força primordial na remodelação da estrutura narrativa.
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