Pena Capital
SINOPSE
Prémio Vida Literária APE/CGD
Esta reedição de «Pena Capital» inclui diversos poemas e textos inéditos, como por exemplo «carta casi-poema para octavio paz» (p. 210), «mário sério» (p. 215), «sombra de almagre» (p. 217), entre outros.
«Os textos deste livro foram escritos de 1948, como no poema "Corpo Visível", a 1976, como em "Informação Cancional ao Poema, Nemésio", com excepção do poema "Este fresco Jardim", que é de 1942 e fecha o livro.»
Como refere o poeta e crítico Gil de Carvalho ("Expresso-Cartaz") « Cesariny escreve neste livro alguns dos poemas máximos da língua no presente século E que são, entre outros, "a um rato morto encontrado num parque", "a antonin artaud", "alegoria do mundo na passagem de arnaldo villanova", "shaftesbury avenue"... Depois há belos poemas e muitas maquetes felizes, os vários jogos e presenças de quem pinta, faz a cidade e os versos, as tais coisas, da ordem do dia, às quais parece estar sempre atento.»
Mário Cesariny (n. 1923), poeta, pintor, vindo do surrealismo, que a seu modo inventou, é, sem dúvida, um dos grandes poetas deste século, que agora finda. O tom da sua escrita, que vibra como uma cidade, como um corpo, é, ao mesmo tempo, coloquial e mágico, presente e oculto, poético e prosaico. O humor, a ironia, a surpresa brotam nestes poemas, fazendo deles actos de insurreição, manifestos, coisa viva. Como o poema "de profundis amamus", que a seguir poderá ler, por cortesia do editor.
CRÍTICAS DE IMPRENSA
Eduardo Pitta, In Mil Folhas (Público), 02 de Janeiro de 2005
Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
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