2022-10-07

A oportunidade de ler Celan na íntegra

Com tradução e posfácio de Maria Teresa Dias Furtado, Os Poemas reúne, pela primeira vez em Portugal, toda a poesia do autor

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Paul Celan, «poeta judeu de língua materna alemã, oriundo de uma região outrora parte do Império Austro-Húngaro, e actualmente parte da Ucrânia, preconizava “uma linguagem mais cinzenta” para os poemas da sua actualidade, acabada de sair dos horrores do Holocausto e eivada de anti-semitismo».

No volume Os Poemas reúnem-se, pela primeira vez em Portugal, todos os livros publicados em vida, o conjunto de mais de uma centena de poemas não incluídos e dispersos do seu espólio e, ainda, um ciclo fragmentário que o poeta não teve a oportunidade de terminar. Fruto de pesquisas e sucessivas traduções ao longo de 50 anos, Maria Teresa Dias Furtado dá-nos finalmente a oportunidade de ler Paul Celan na íntegra.

 

O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 20 de outubro.

 

O REAL

 

Da cruz restou, como ar,

apenas a trave

transversal: coloca-se,

coloca-se invisivelmente diante

do mais fundo ventrículo: tu

lembras-te de ti própria,

ergues-te saindo da mentira —:

livre

de toda a angústia respiras agora

e

 

falas.

 

SOBRE O AUTOR

 

Paul Celan nasceu em Czernowitz (Bucovina, na Roménia) em 1920, de pais judeus-alemães. Em 1940, Czernowitz é ocupada pelos soviéticos e no ano seguinte pelas tropas alemãs e romenas. Em 1942, os seus pais são deportados para um campo de extermínio, onde morrem poucos meses depois. Apesar de ter sobrevivido ao Holocausto, Celan permaneceu preso, num campo de trabalho, até 1943, ano em que a Bucovina volta a ser tomada pelos soviéticos. Em 1945, parte para Bucareste onde se torna tradutor e leitor de uma editora e publica os seus primeiros poemas. Em dezembro de 1947, partirá para Viena, e um ano depois para Paris, onde se fixa e retoma os estudos (Germanística e Linguística). Entre 1950 e 1968, publica vários originais e traduções (Shakespeare, Henri Michaux, Paul Valéry, Pessoa, Mandelstam). Em 1969, um ano antes da sua morte, visita Israel. Suicida-se no Sena, um ano depois.