Embora a poesia fosse uma faceta menos conhecida de Júlio Pomar, o artista plástico também cultivava a arte de bem versar. A prova está em Prima Contradição, um projeto nunca concluído que era alimentado pelo muito amigo António Lobo Antunes, autor do preâmbulo desta edição.
Organizado por José Alberto Oliveira e José António Oliveira, encontramos aqui um livro assumidamente descomprometido, mostrando que a poesia pode brincar com a forma sem abdicar da musicalidade e do rigor do verso: um complexo mosaico que glosa temas reconhecíveis da nossa cultura – do fado ao passado histórico, ou ironizando os bons costumes e velhos hábitos portugueses.
O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 2 de novembro.
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Com a tristeza a roer
As unhas dos dedos todos
Vamos acabar por ter
Melancolias a rodos
Porque Cesário viu
Um doce frui-
to na melancolia
Do país que ensandecia
E digo ensandecer
A favor de uma maldade
Que pra rimar com saudade
Lisboa me sugeria
Calo na garganta a poesia
SOBRE O LIVRO
Este livro inédito de Júlio Pomar mostra-nos o fulguroso saber poético de um dos mais importantes pintores portugueses, autor de dois livros de poemas. «[Júlio Pomar,] nos últimos anos de vida, dedicou-se à realização de uma terceira obra poética, que nunca recebeu versão definitiva. Deixou-nos, assim, um espólio de milhares de poemas, alguns concebidos como letras de fados (e destes, vários já musicados), muitos aparentemente inacabados, ou constando de variações sobre o mesmo tema, sem indicação de preferência entre variantes», esclarecem-nos os organizadores do volume, José Alberto Oliveira e José António Oliveira.
SOBRE O AUTOR
Júlio Pomar (Lisboa, 10 de janeiro de 1926 — Lisboa, 22 de maio de 2018) frequentou a Escola de Arte Aplicada António Arroio e a Escola de Belas-Artes do Porto. Lá, integrou um movimento que se autointitulava «Os Convencidos da Morte» e organizou a primeira Exposição da Primavera, no Ateneu Comercial, com a participação de artistas antifascistas. Em 1950, realizou em Lisboa uma exposição individual na Sociedade Nacional de Belas Artes, onde apresentou obras marcantes da pintura portuguesa. Até 1975, o seu trabalho incide principalmente no retrato, com recurso ao desenho e à pintura. Substituiu o óleo pelo acrílico. Tem uma Fundação com o seu nome.